Em 04 de dezembro de 2020, o Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio cultural de Pernambuco, concedeu o Titulo de Patrimônio Vivo as Pretinhas do Congo de goiana sede.
Fundado no ano de 1936, na comunidade ribeirinha do Baldo do Rio, antigo porto da cidade de Goiana-PE, a Nação Africana Pretinhas do Congo de Goiana (no tempo “Pretinha do Congo”) é uma brincadeira popular originaria da cidade de Goiana de tradição afrodescendente, qual através de suas evoluções, da teatralidade, das danças e sua singular musicalidade, representa a vida cotidiana dos escravos negros trabalhadores dos engenhos da Zona da Mata Norte de Pernambuco. São utilizados trajes, fantasias, indumentárias e alegorias no desfile das pretinhas, projetando a imagem da população negra da região canavieira em comemoração a liberdade concedida a estes, ao ritmo cadenciados dos ilús, maracás e bombos. Esta toada descreve a realidade contextualizada pelas pretinhas:
A Nação Africana Pretinha do Congo é uma singularíssima representação da cultura negra no estado de Pernambuco, símbolo da resistência das tradições e culturas afrodescendentes brasileiras. Apenas se tem conhecimento da existência de dias Pretinhas do Congo, ambas da cidade de Goiana-PE, uma sediada no litoral da cidade, fundada no ano de 1930, e a outra na área na comunidade de pescadores do Baldo do Rio, incluída na área urbana do município.
Cortejo:
A brincadeira é composta por homens e mulheres de várias faixas etárias. Escravos da lavoura que portam enxadas e ferramentas de trabalho, pretinhas, feitores e senhores de engenho configuram a sociedade fundiária escravagista, e são satirizados através das toadas e loas, dançando continuamente durante o desfile. Estes, personagens formam dois “corsões” de brincantes, vassalos (ou secretários), pagem e dama representam a monarquia, semelhante aos maracatus de baque solto e virados. Os batedores (percussionistas) acompanham Mestre Val, que anima a brincadeira com suas toadas e cortes de apito, sendo estas cantigas respondidas pelos outros brincantes também, em especial pelo bandeirista que se posiciona em alguns momentos em frente ao mestre.
Musicalidade:
Inúmeras antigas, toadas e loas guiam as evoluções da brincadeira. Também é presente nestas cantarolas o forte sincretismo religioso, expondo as crenças devoções dos praticantes desta brincadeira. Santos católicos são louvados, unindo a musicalidade tradicional do candomblé e da jurema sagrada. As toadas das pretinhas são embaladas pelo batuque de ilús e outros bombos, cada uma das pretinhas que brincam no cordão também tocam maracás. O Mestre Val se encarrega de dar o “boa noite”, com a toada de abertura do cortejo, e de se despedir também. As divisões rítmica da brincadeira são influenciadas pela macumbas toques da Jurema.
Atualmente:
Apesar de animar os carnavais da cidade de Goiana a exatamente setenta e nove anos, assim como outras culturas e tradições negras, as pretinhas ainda enfrentam dificuldades para manter-se em atividade. A segregação do povo negro e o preconceito em geral são grandes empecilhos cotidianos entre estas manifestações culturais. A brincadeira foi contemplada com um projetos de manutenção de suas atividades através de incentivo fiscal no anos de 2008, adquirindo novos instrumentos musicais, uma nova cede, roupas e indumentárias que ajudaram a amenizar a situação de grande miserabilidade comum entre os moradores do Baldo do Rio. O projeto também patrocinou uma pesquisa, realizada pelo pesquisador Severino Vicente da Silva, que resultou no livro intitulado Pretinhas do Congo de Goiana – Uma Nação Africana na Jurema da Mata Norte, lançado pela editora Reviva, e também no CD Pretinhas do Congo de Goiana. Em Julho de 2011, houve uma grande enchente na comunidade do Baldo do Rio, onde materiais como fantasias, instrumentos musicais, livros, CDs e a própria cede da brincadeira foram destruídas e carregadas pelo Rio Tracunhaém, que transbordou durante o intenso período de chuva deste mês, comprometendo de maneira significativa a estrutura da brincadeira. Hoje a brincadeira encontra-se reconstituída e em plena atividade, com uma nova estrutura, refeita por Mestre Val, Rosa e todos os familiares que compõem as Pretinhas do Congo.
Além dos carnavais e celebrações culturais da cidade de Goiana, as Pretinhas do Congo participaram de diversas eventualidades no Estado de Pernambuco.
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